sábado, 12 de março de 2011

Quiksilver Pro 2011 - Sabotaj

Kelly ganhou mais uma, mas essa o Taj entregou.
Vacilou feio.
E não foi na bateria final, foi bem antes.
Quando acabaram as quartas de final, o mar estava liso, de quando em quando entrava uma série com bom tamanho, o campeonato estava bombando.
É verdade que a maré estava enchendo mas o Taj tinha acabado de tirar uma nota nove e, na bateria do Alejo, falta de onda não foi o problema.
Mesmo assim, Kelly Slater fez campanha pra adiar o campeonato.
Falou com a mídia, deu entrevista, falou com o contest director, head judge, criou o maior rebuliço.
O que você faria se fosse um semifinalista também e o Kelly Slater dissesse que achava melhor continuar o campeonato com a maré seca, mesmo sabendo que ia virar o vento?
Eu ia querer o contrário!
Se é bom pra ele, é ruim pra mim, claro.
E o que disseram os outros semifinalistas?
Bem, o Tiago Pires acabou de assinar um contrato de dez anos com o patrocinador do campeonato, com certeza não seria ele a causar confusão.
Jordy Smith, não teve nem chance pra dar sua opinião, no momento em que o diretor combinava com os surfistas o adiamento da competição o sul-africano ainda estava na água, tratando de vencer sua bateria contra o brasileiro Alejo Muniz.
Restava o Taj Burrow.
O espertão topou, foi na onda do careca, e o resultado todo mundo sabe: Taj foi humilhado mais uma vez, mal somando dez pontos na bateria final.
Bem feito, dirão alguns.
Outro que vacilou foi o próprio Alejo.
O moleque tem um futuro do caramba, sem dúvida, e a gente pode colocar esse resultado na conta da inexperiência, mas, fala sério...
O cara acha que vai passar pra semifinal, vencer o vice-campeão mundial com uma nota 5,90?
O Mineiro tirou duas notas nove e nem assim passou a bateria!?!?
No World Tour, uma nota seis não dá nem pra saída.
Pra piorar, o moleque ficou 15 minutos sem pegar nenhuma onda.
Não conseguir melhorar uma nota cinco pode até acontecer, sei lá.
Mas nem tentar?
No final ainda teve aquela papagaiada de fazer uma interferência no Jordy (o sul-africano pegou a onda, a sirene tocou acabando a bateria e ainda assim Alejo foi na onda, tentando usar a prioridade).
Para o jovem candidato a Rookie of the Year, agora é a hora de rever as imagens, botar a cabeça no lugar e aprender com os erros.
Ainda mais agora, que o mundo todo já sabe que ele existe.
A pressão vai aumentar bastante, vamos ver como nosso herói vai reagir.
Talento ele tem de sobra mas já vimos várias vezes que só isso não basta.
Quem ainda não viu, pode assistir aos vídeos aqui.

Quanto à bateria do Mineiro, não tem nem polêmica: foi garfado na cara dura.
A onda que rendeu ao Taj uma nota 9.43 mal valia uma nota oito.
Meus amigos australianos justificam dizendo que a primeira onda do brasileiro foi super-valorizada, e que os juízes tiveram que compensar no final.
De todo jeito, Mineiro mostrou certa recuperação nesse primeiro evento do ano.
Voltou a surfar com mais radicalidade, dando aéreos, manobras mais verticais, com velocidade e precisão.
Esse é o surfe que gostamos de assistir.
E é bem melhor que aquele teatro de engatilhar a arma e atirar, ou essa coisa de ficar comemorando antes, durante e depois da onda acabar.
De tão exagerado, transparece falta de humildade.
Não justifica a roubalheira, mas é mostra de certa arrogância deselegante.
Adriano tem surf pra voltar pro top 10, mas fácil não vai ser, vai ter que ralar.
Agora é esperar Bells Beach.

terça-feira, 8 de março de 2011

Quiksilver Pro 2011 - Destaques (os positivos)

É, queridos leitores.
Sumimos.
Para aqueles que já estavam ficando preocupados, estamos vivos, está tudo bem.
Estou trabalhando e estudando de uma forma tal que pouco tempo livre me sobra pra escrever mas, confesso, sinto muita falta das nossas conversas sobre surf.
Como não dá pra simplesmente pegar o telefone e ligar pra bater papo, o jeito é continuar escrevendo e torcendo pra vocês aparecerem por aqui de vez em quando.
Especialmente agora, com a primeira etapa do WT chegando na fase final.
Assisti até que bastante coisa.
Aqui o campeonato passa ao vivo na TV aberta, a mesma transmissão da internet.
Primeiro gostaria de apontar os destaques, na minha modesta opinião.
No próximo post prometo juntar-me ao coro dos revoltados e fazer eu também minhas críticas ao vergonhoso resultado da bateria do Mineirinho contra os outros seis caras (Taj Burrow e os cinco juízes).

Vamos ao que de melhor aconteceu:

Michel Bourez.
O tahitiano mostrou uma evolução impressionante. Muita força nas manobras, velocidade, surfou com garra e muita consciência, errando muito pouco.
Já falamos
bastante desse jovem talento. Vai dar trabalho esse ano, podem anotar.

Tiago Pires.
Tim Tones, nosso correspondente na Gold Coast, ficou bastante impressionado com a performance do Príncipe de Portugal, principalmente durante a expression session que rolou no domingo, no fim-de-tarde.
(É fato que as ondas estavam muito boas, não dá pra entender muito bem porque suspenderam o evento e perderam esse mar. Infelizmente, não existem imagens desta sessão no site oficial do evento.)
Mesmo surfando muito, Tiago foi empurrado para as quartas-de-final, justamente numa bateria contra o Michel Bourez.
Talvez tenha pesado o contrato de 10 anos que o gajo fez com a Quiksilver, ou quem sabe o fato de que as principais marcas estão encarando a Europa como o novo Eldorado da surf-wear.
De qualquer maneira, o português conseguiu uma nota 5,17 no último segundo, com duas rasgadas numa merreca safada e agora vai enfrentar Matt Wilkinson, o próximo na minha lista.

A bateria vocês assistem abaixo.




Matt Wilkinson.
O que falar desse cara? É evidentemente, um palhaço (e isso, pra quem conhece minha família, é um grande elogio). O cara é autêntico, como vocês mesmos podem conferir.
Ele chegou a dizer que surfa melhor quando o cabelo cai na cara e ele surfa sem enxergar o que vem pela frente. Comédia.
Na real, com permanente no cabelo e tudo, o Wilko é o único surfista que não perdeu nenhuma bateria neste campeonato.
Ele melhorou bastante como competidor e seu surf está cada vez mais solto, preciso e muito moderno.
A bateria contra o Heitor Alves, que vocês assistem no vídeo abaixo, é um bom exemplo do que estamos falando.



Adrian "Ace" Buchan.
Pra mim, é candidato ao título mundial.
Top 5, com certeza.
Embora não tenha um repertório muito moderno, sem aéreos e manobras malucas, Ace é um excelente competidor e chega ao limite da perfeição nas suas rasgadas e batidas.
Tem o surf que eu sonho em fazer.
No segundo round, Ace conseguiu uma nota 6,47 com apenas uma batida de backside.
Confiram:



Pra completar os destaques, Alejo Muniz.
Vou deixar de lado o comentário imbecil que o Luke Kennedy fez para a Tracks (na mesma matéria com a foto do Matt Wilkinson do link acima), sugerindo que nós brasileiros estamos nos apropriando indevidamente do Alejo já que ele nasceu na Argentina.
Uma falsa questão e um comentário infeliz, desrespeitoso com seus amigos, sua família e com o rapaz, que já disse mais de uma vez que se considera brasileiro,
Na verdade, Alejo é o grande destaque do campeonato.
Não é todo dia que alguém vence uma bateria contra Taj Burrow e Joel Parkinson em Snapper Rocks, quanto mais um estreante, em seu primeiro campeonato no WT.
Alejo ainda não mostrou tudo o que pode.
Pra vocês terem uma idéia, na sua vitória contra o Owen Right ele chegou a tentar um Kerrupt flip, manobra nunca completada num evento profissional.
Alejo já é considerado o mais completo surfista brasileiro de todos os tempos.
Vale a pena ver de novo o vídeo da Nike com o Alejo se preparando para a estréia no circuito mundial.
Vocês vão entender o que vem pela frente.